OS FACTOS, AS MEMÓRIAS VISUAIS, AS EMOÇÕES E OS SENTIMENTOS
Um dos aspectos especialmente interessantes do “Sobrevivi ao
Holocausto” é o esforço de que Nanette Konig constantemente dá testemunho – para que
o relato dos factos seja o mais exacto possível.(1) Tantos foram os factos e tão
dramáticos e intensos foram na sua crueza que não necessitam de enredos especialmente
criados para que os consigamos entender em toda a sua tragédia ou malvadez. Não obstante os sentimentos que ainda perduram, que reclamam a luta constante contra o que de mais violento, triste e repulsivo os seres humanos possam sentir, Nanette Konig tenta mostrar-nos, com a isenção que a inevitável memória reconstruída lhe permite, a descrição dos factos, sem os viciar com a confabulação que a experiência pessoalmente dolorosa facilmente pede.
«São lembranças tão distantes que chego a esforçar-me para que a sua tonalidade em preto e branco não se apague mais. Chego até a questionar-me se esses dias realmente existiram, se não faziam parte de um conto de fadas contado por outras pessoas, talvez por uma enfermeira, no período do pós-guerra, para que eu recuperasse melhor e mais rapidamente daqueles momentos sombrios.» (pp. 15-16)
Nanette Konig tenta mostrar-se como, na verdade, é bem
compreensível que seria: uma criança ingénua, querendo acreditar que as
pessoas, o ser humano, não conseguiria ser, afinal, tão mau que não fosse
sensível à bondade humana.
«Entrar no território alemão causava um enorme frio na barriga. Era ali onde tudo tinha começado. Era ali que, em 1933, os cidadãos tinham elegido democraticamente um líder que pregava que o país se devia livrar de tudo o que fosse impuro – e isso incluía os judeus. O que iriam fazer connosco? Seria possível que as pessoas com feições tão bonitas e tranquilas, com crianças aparentemente tão doces, sorrindo e brincando, poderiam fazer algum mal? (pp. 50-51)___________
(1) Este assunto será objecto de apontamento próprio.
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